CAPITÓLIO CAIPIRA, A INVASÃO
CAPITÓLIO CAIPIRA, A INVASÃO
Sete dias após a posse do Presidente da República no ano passado, em 8 de janeiro, os efeitos colaterais do funesto período Bolsonaro no Palácio do Planalto ainda se fariam sentir no corpo de um país em processo de se restabelecer dessa terrível disseminação viral da ultra direita, que durou quatro longos anos. Durante parte desse lapso houve outro ataque: o da Covid 19, pandemia utilizada pelo ex-presidente para promover outro agente de morte, a Cloroquina, cujo uso matou 17 mil pessoas - estes números representam apenas a ponta do iceberg segundo estudos científicos - naqueles anos em muitos países, incluindo os EUA do seu admirado amigo Donald Trump. A lembrança da relação entre ambos presidentes de ultra direita não é gratuita.
Alegando fraude na eleição presidencial de 2020 que deu a vitória a Joe Biden, apoiadores do empresário republicano invadiram o Capitólio. Para além das similitudes dos métodos dos governos Trump e Bolsonaro, como a utilização de notícias falsas e as teorias da conspiração, os constantes atropelos ao trabalho jornalístico, a extrema falta de decoro deles próprios e dos seus parlamentares nos âmbitos legislativos, o ataque constante às conquistas trabalhistas e às políticas sociais, a ruptura com entidades como a OMS, a “guerra” comercial com a China, a rejeição a aceitar a derrota eleitoral e a ausência na posse dos seus substitutos, entre outros tantos retrocessos democráticos, o ponto histórico sobressalente da conexão política - ou da imitação - entre ambos, foi a intentona de golpe de Estado através de um roteiro similar, um em janeiro de 2020 e o outro em janeiro de 2023, “casualmente” ambos após as suas respectivas frustrações eleitorais.
Com a vênia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a renúncia do comandante da pasta, general de reserva Marco Gonçalves Dias, após a divulgação de imagens onde ele aparece interagindo com os invasores, ficou evidente a participação militar na invasão.
Em Brasília foram invadidos o Congresso, o Palácio do Planalto e o STF causando inúmeros destroços, salas reviradas e até os quadros com as fotografias na Galeria dos ex-presidentes foi totalmente destruída. Além disso, obras de arte de imenso valor foram rasgadas, como um quadro do pintor modernista Di Cavalcanti, cuja obra “As Mulatas” foi danificada por essa horda. Este último fato me levou a escrever, ano passado, uma tragicomédia onde a participação da família Bolsonaro não fica isenta de responsabilidade política e operacional nos patéticos episódios protagonizados por indivíduos como o "patriota do caminhão", um dos mais cômicos personagens do texto teatral “Capitólio Caipira, a Invasão”, disponível nas redes.
Carlos Pronzato
Cineasta, diretor teatral, poeta e escritor
Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)
carlospronzato@gmail.com
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